Crônica VI - A Despedida

05/12/2012 09:24

Crônica VI - A Despedida

        Chega. Não terei mais que tolerar seus atrasos e suas desculpas (moro no Ponunduva, o ônibus não parou, minha mãe não me chamou, tinha que arrumar meu cabelo...). Vê-los sentados quase dormindo no refeitório esperando a segunda aula, despreocupados, mesmo perdendo matéria importante.

            Chega. Não terei mais que consolar seus choros infantis ocasionados pelo cartaz que não agradou ao grupo; pelo R dado pelo professor exigente; pelo I em que vocês insistem em dizer que leram o livro, quando na verdade leram o resumo da internet; pela matéria que, segundo vocês o professor não explicou, quando na verdade vocês estavam mexendo no celular ou não revisaram o conteúdo em casa para tirar dúvidas; do trabalho que o professor não recebeu, porque estava fora de data e segundo vocês, ninguém os avisou sobre o prazo.

            Chega. Não terei mais que tolerar suas danças estranhas, ou ouvir suas músicas de gostos duvidosos. Não me preocuparei mais com o barulho do som a atrapalhar as aulas, nem com o exagero nas coreografias. Os passos, os rebolados, as acrobacias, que alívio para meus olhos, não farão mais parte dessa escola. A cada passagem minha pelo pátio não os verei mais ensaiando, ensaiando e não evoluindo.

            Chega. Não virão mais me pedir bola quando deveriam aproveitar o tempo para estudar, nem solicitarão saída antecipada quando poderiam utilizar a biblioteca ou estarem carecas de saber que não é permitido sair antes do horário. No tempo entre uma prova e outra não os verei em grupos jogando conversa fora ou jogando uno e magic.

            Chega. Não terei que assinar ou autorizar suas idas aos passeios porque esqueceram de trazer a autorização dos pais. Nem tão pouco me preocupar com qual ônibus irão, para não separar os amiguinhos. A Fazenda do Café, a Bienal (para vocês foram duas), o Catavento etc, esses passeios não serão mais para vocês, não terei mais que me certificar que ninguém vai passar mal ou se perder.

            Chega. Não darei mais aula para vocês, que ótimo, a única turma que eu nunca tive que chamar mãe ou pai para dar uma repreensão, suspensão ou qualquer punição. A turma que eu e todos os professores sempre esperamos muito e sempre recebemos muito. A turma que teve a escola nas mãos, organizou festas e eventos, andou por aqui livremente, porque tiveram nossa confiança. Confiança e respeito conquistados pela maturidade, postura e compromisso com a escola, algo que nunca vimos antes por aqui.

            Chega. Não promoverão mais mudanças por aqui. Mudanças como a maior e mais importante já feita nessa ETEC, a mudança da direção. Sim, foram vocês protagonistas dessa mudança. E hoje, através da escolha consciente de vocês temos a direção que sonhamos. Somos sim uma escola mais aberta porque aprendemos a confiar nos alunos a partir do que vocês 3A e 3B formandos de 2012 nos ensinaram.

            Chega. Acabou a crônica e o tempo de vocês aqui e também meu mandato de coordenador. Mas, agora, não como alunos e professor, mas como amigos, quero vê-los sempre por aqui. A escola estará sempre aberta para vocês e isso, esse elo não terá fim.

Márcio Roberto Sartori – 04/12/2012

Coordenador do Ensino Médio